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quinta-feira, 7 de julho de 2011

Meia Noite em Paris (Midnight in Paris)

Já virou modinha falar de Woody Allen, e pior ainda falar que Woody Allen é sinônimo de Clichê nos dias atuais, sempre as mesmas histórias, os mesmos dramas, o mesmo enredo batido e envelhecido, sustentado por uma áurea mítica de um passado glorioso com pérolas cinematográficas inesquecíveis e que marcaram a história e o modo de se fazer cinema, fui contagiado por esse sentimento, e depois de ter visto o entediante “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” não esperava nada mais do que uma história que se entrelaça em várias histórias, de um monte de personagens confusos e medíocres que vivem para um observador aquilo que podemos expressar como “pobre garota rica, o que ela sabe sobre o sofrimento?” (Titanic, 1997) é assim que pensava eu que seria o novo trabalho de Woody “Meia noite em Paris” e para minha estonteante surpresa não o foi.

Não é segredo nenhum que para Woody Allen Paris tem um ar mágico, misterioso, a cidade respira e transpira o que há de mais sedutor em termos de cultura e beleza artística, é como se o mundo inteiro fosse à periferia e Paris o centro, onde se localizam e já viveram os grandes pensadores e artistas, e até aqueles que ali não moram sentem uma necessidade quase espiritual de estabelecer morada na cidade para que seu senso artístico aflore de uma forma sobrenatural. Unindo a contemporaneidade de uma Paris ainda tão charmosa quanto em outras épocas e a viagem de um personagem ávido por descobrir em outros tempos a razão de uma vida inspiradora é que o Diretor brinca com a ideia de “Anos dourados” a mitificação que cada um faz do passado, as glórias, as belezas, as grandes revoluções, tudo isso acaba por se mostrar insatisfatório para aquele que vive o seu tempo, e tenta buscar no passado aquilo que realmente preencheria seu ser.

Um filme como esse deve ser assistido com uma visão de mundo e um conhecimento artístico relevante, as piadas podem ser classificadas como “internas” de um grupo de Nerds e não massificadas, alguns personagens muito importantes para a trama devem ser conhecidos anteriormente ao filme, se não, acredito que sua experiência vai ser de “Perdido no ninho” recomendações: Jogue no Google e saiba um pouco sobre Buñuel, Salvador Dalí, F. Scott Fiztgerald, Ernest Hemingway e Pablo Picasso. Ironizar a visão mundial sobre Paris, aquela que é recanto de obras antigas e histórias envelhecidas é uma tentativa do diretor de mostrar que a arte pela arte não leva a lugar nenhum e que ela só é completa a partir do momento que o artista faz dela uma ferramenta para se entender a vida e dessa formar encontra o caminho a ser seguido para se viver da melhor forma. O personagem de Owen Willson é um artista que busca um sentido, uma razão maior para sua arte, algo que transcenda a ideia medíocre de se fazer entretenimento, ou de enclausurar sua obra a elitismos ou museus e ambiente conservadores, para ele a arte deve ser sentida, vivida, apreciada nas ruas, praças, ser popular não se tornando vulgar.    


Para um diretor que faz um filme por ano as probabilidades de acerto e erro também são maiores, Woody vinha insistindo no erro a algum tempo, mas dessa vez, encheu a mão, esse filme é nobre, não é clichê, é interessante, diferenciado, traz um roteiro inteligente e divertido sem ser babaca, é surreal e realista, antagônico em gêneros, mas, coerente na sua proposta, recomendado, corra e assista, não deve ser depreciado, pode sim ser criticado, afinal, não é uma obra que se encerra em sí, mas, pode sim ser considerado um bom trabalho e mais um suspiro daquele que como sua obra quis mostrar está em movimento, e não deve ser colocado ainda no museu das artes mortas.

FICHA TÉCNICA

Direção: Woody Allen
Elenco: Owen Willson, Marion Cotillard e Rachel McAdams
Duração: 1 hora e 40 minutos

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