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domingo, 31 de julho de 2011

ASSALTO AO BANCO CENTRAL

Brasilidade é o que pode ser encontrado de cara no primeiro filme dirigido por Marcos Paulo “Assalto ao Banco Central”. A trama já se inicia com uma cena de sexo selvagem, entre dois dos bandidos que irão planejar o grande feito, Barão (Milhem Cortaz), e sua companheira Carla (Hermila Guedes). Outros personagens vão aparecendo ao longo do recrutamento, o primeiro deles é Mineiro (Eriberto Leão) e a gangue conta ainda com a participação de Heitor Martinez, Tonico Pereira, Fábio Lago, Gero Camilo entre outros. A história é inspirada no surpreendente assalto ocorrido no Banco Central do Ceará, em agosto de 2005. Mesclando histórias de pura ficção e outras que envolvem os fatos divulgados na imprensa, o filme não apresenta nada de novo em seu conteúdo, pode se dizer que são os fatos transformados em história e posteriormente simbolizados em imagens resta então, saber se o trabalho foi bem feito.

Para os amantes da boa fotografia, o filme não é o que chamamos de “bom trabalho”, nada é muito inspirador visualmente, acaba por se parecer com um seriado de tv, desses que a rede globo tem colocado no ar ultimamente. Interpretação mediana é tudo que se encontra, faltou muito da experiência de grandes diretores, algumas cenas ficaram bastante teatralizadas, com piadas toscas, cortes desnecessários, ângulos incoerentes com a ação, e a ação? Em gente! O filme é chato em alguns momentos, o ritmo é lento e cansativo, as investigações policiais resumidas. E o foco, não se encontra em lugar nenhum, um grande resumão de tudo que acabou não emocionando em nada, no fundo você sai do cinema sem saber de que lado você está, quem realmente tem razão? A policia que é mostrada em suas duas facetas, a boa, justa e honesta, a outra, corrupta, criminosa e assassina ou os bandidos, que nas palavras de um dos personagens, justifica o feito dizendo “Dinheiro honesto, de forma desonesta” e a plateia se enche de risos.


Eriberto Leão sempre confirmando a mítica de “Rostinho bonito” e só! O fato é que o filme é globalesco, cheio de atores que a gente vai ver amanhã na novela, e que sabemos, não tem talento nenhum, isso deixa a estória ainda mais capenga do ponto de vista do que pode ser crível dentro dos acontecimentos, não é um filme para problematizar, é entretenimento, é piada, é besteirol, sem se aproveitar grandes coisas, sem saber até onde houve pesquisa, nada de inovador, sua estreia, foi mais uma entre às milhares que já aconteceram, e ainda vão acontecer. É difícil classificar um filme entre bom ou ruim, pois isso depende da motivação do espectador, se você procura cinema como expressão artística, cinema autoral, aqui você pode classificar esse filme como dispensável, mas, se tudo que você quer é levar a namorada, ou marcar com os amigos alguns minutos de hibernação mental, o filme é uma boa pedida, não se pode dizer que é um filme proibitivo, é elegível, desde que se saiba com que proposito ele será assistido.  

Direção: Marcos Paulo
Elenco:  Lima Duarte, Giulia Gam e Eriberto Leão
Duração: 111 min
Origem: Nacional (Brasil)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Meia Noite em Paris (Midnight in Paris)

Já virou modinha falar de Woody Allen, e pior ainda falar que Woody Allen é sinônimo de Clichê nos dias atuais, sempre as mesmas histórias, os mesmos dramas, o mesmo enredo batido e envelhecido, sustentado por uma áurea mítica de um passado glorioso com pérolas cinematográficas inesquecíveis e que marcaram a história e o modo de se fazer cinema, fui contagiado por esse sentimento, e depois de ter visto o entediante “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” não esperava nada mais do que uma história que se entrelaça em várias histórias, de um monte de personagens confusos e medíocres que vivem para um observador aquilo que podemos expressar como “pobre garota rica, o que ela sabe sobre o sofrimento?” (Titanic, 1997) é assim que pensava eu que seria o novo trabalho de Woody “Meia noite em Paris” e para minha estonteante surpresa não o foi.

Não é segredo nenhum que para Woody Allen Paris tem um ar mágico, misterioso, a cidade respira e transpira o que há de mais sedutor em termos de cultura e beleza artística, é como se o mundo inteiro fosse à periferia e Paris o centro, onde se localizam e já viveram os grandes pensadores e artistas, e até aqueles que ali não moram sentem uma necessidade quase espiritual de estabelecer morada na cidade para que seu senso artístico aflore de uma forma sobrenatural. Unindo a contemporaneidade de uma Paris ainda tão charmosa quanto em outras épocas e a viagem de um personagem ávido por descobrir em outros tempos a razão de uma vida inspiradora é que o Diretor brinca com a ideia de “Anos dourados” a mitificação que cada um faz do passado, as glórias, as belezas, as grandes revoluções, tudo isso acaba por se mostrar insatisfatório para aquele que vive o seu tempo, e tenta buscar no passado aquilo que realmente preencheria seu ser.

Um filme como esse deve ser assistido com uma visão de mundo e um conhecimento artístico relevante, as piadas podem ser classificadas como “internas” de um grupo de Nerds e não massificadas, alguns personagens muito importantes para a trama devem ser conhecidos anteriormente ao filme, se não, acredito que sua experiência vai ser de “Perdido no ninho” recomendações: Jogue no Google e saiba um pouco sobre Buñuel, Salvador Dalí, F. Scott Fiztgerald, Ernest Hemingway e Pablo Picasso. Ironizar a visão mundial sobre Paris, aquela que é recanto de obras antigas e histórias envelhecidas é uma tentativa do diretor de mostrar que a arte pela arte não leva a lugar nenhum e que ela só é completa a partir do momento que o artista faz dela uma ferramenta para se entender a vida e dessa formar encontra o caminho a ser seguido para se viver da melhor forma. O personagem de Owen Willson é um artista que busca um sentido, uma razão maior para sua arte, algo que transcenda a ideia medíocre de se fazer entretenimento, ou de enclausurar sua obra a elitismos ou museus e ambiente conservadores, para ele a arte deve ser sentida, vivida, apreciada nas ruas, praças, ser popular não se tornando vulgar.    


Para um diretor que faz um filme por ano as probabilidades de acerto e erro também são maiores, Woody vinha insistindo no erro a algum tempo, mas dessa vez, encheu a mão, esse filme é nobre, não é clichê, é interessante, diferenciado, traz um roteiro inteligente e divertido sem ser babaca, é surreal e realista, antagônico em gêneros, mas, coerente na sua proposta, recomendado, corra e assista, não deve ser depreciado, pode sim ser criticado, afinal, não é uma obra que se encerra em sí, mas, pode sim ser considerado um bom trabalho e mais um suspiro daquele que como sua obra quis mostrar está em movimento, e não deve ser colocado ainda no museu das artes mortas.

FICHA TÉCNICA

Direção: Woody Allen
Elenco: Owen Willson, Marion Cotillard e Rachel McAdams
Duração: 1 hora e 40 minutos